O ano era 2005... Todos os amantes do gênero filmes-de-herói, em especial os bat-maníacos, estavam ansiosos pelo lançamento do tão aguardado novo filme do homem-morcego: BATMAN BEGINS. Um projeto ousado e com milhões de dólares investidos, o que para os fãs era um sinal de que se tratava de algo de qualidade, pois desde o horroroso Batman & Robin (1997), a Warner Bros. não queria ouvir a palavra morcego nem de brincadeira...
Durante os oito anos que separaram os dois filmes muitas idéias foram apresentadas, porém nenhuma agradou a WB. Poucas pessoas sabem, mas Joel Schumacher chegou a apresentar um projeto para um terceiro filme dirigido por ele chamado Batman: Triumphant onde seria resgatado o lado sombrio do herói deixando de lado os neons, mamilos e bat-cartões de crédito utilizados anteriormente. Mas devido ao fracasso do diretor com Batman Eternamente (1995) e o já citado Batman & Robin, a Warner preferiu não arriscar (novamente).
Até que, em 2002, um diretor pouco conhecido em Blockbusters, mas que já fazia certo sucesso com filmes de médio/baixo orçamento – por exemplo, os excelentes Amnésia e Insônia – entregou aos chefões da companhia uma idéia que agradou a todos: mostrar a origem e as causas de Bruce Wayne se tornar o homem-morcego, baseando-se em fatos o mais próximo da realidade possível... Uma idéia simples, porém ousada do até então pouco conhecido Christopher Nolan. Estava dado o pontapé inicial para o reinício da franquia.
Mas, como não cometer os mesmos erros dos diretores anteriores? Contratando um roteirista que saiba o que está fazendo e que conheça o personagem: esse era David S. Goyer. Bat-Fã declarado, Goyer, juntamente com Nolan, escreveu o roteiro e, para delírio dos fãs, utilizou referências diretas a HQ’s consagradas por excelentes artistas que passaram pela história do Batman, com destaque para Frank Miller.
É impossível não perceber a semelhança de certas passagens do roteiro com as Graphic Novels O Cavaleiro das Trevas (escrita e desenhada por Miller) e Batman: Ano Um (roteirista). A cena inicial em que Bruce descobre a caverna e é atacado por centenas de morcegos é uma cópia exata do que acontece em OCdT, da mesma forma que a morte de Thomas e Martha Wayne é exatamente igual à apresentada em Ano Um – esta cena foi construída de uma forma tão incrível que é impressionante como, mesmo sabendo o desfecho, nós torcemos para que Joe Chill não dispare a arma. Mas, com certeza, a cena que mais chama a atenção pela semelhança com as HQ’s com riqueza de detalhes é certamente a fuga do Batman em meio aos morcegos no prédio cercado pela SWAT!
Ainda no campo das referências, a dupla Nolan/Goyer nos presenteou com um caminhão de personagens, situações e locais saídos diretamente das HQ’s: Detetive Flass, Comissário Loeb, Carmine Falcone, Joe Chill, Lucius Fox, Victor Zsasz, Barbara Gordon, Asilo Arkham e os seus detentos com os uniformes laranja, Batman movendo-se nas sombras e suas clássicas “saídas à francesa”, a ironia britânica do Alfred, o prédio do GCPD (Central de Policia de Gotham) e muitas outras.
Em meio a tudo isto, eles conseguiram também demonstrar fatos até então pouco conhecidos dos não-fãs do personagem: o relacionamento de Bruce com os pais, o relacionamento dele com o mordomo (que acabou assumindo o papel de pai após a morte de Thomas Wayne), sua viagem através do mundo buscando uma forma de fazer justiça e, principalmente, a vida tripla do personagem – Batman, Bruce ‘Playboy’ Wayne e o verdadeiro Bruce, uma pessoa amargurada mas que busca incessantemente acabar com o mal que lhe tirou os pais.
E o mais fantástico disso tudo? Eles demonstraram isso de uma forma real em um mundo real, onde nos sentimos na pele do personagem! Nada de uma Gotham City cheia de neons e estátuas masculinas, e sim uma cidade suja, feia, corrompida pela máfia e pelo crime. Em se tratando de realidade, tudo é retratado de uma forma crível - até mesmo as orelhas do capacete possuem uma função: servem como fones de escuta de longa distância - , ou seja, nada está ali por acaso. Tudo tem um motivo, tudo tem uma razão.
Em relação aos vilões, num primeiro momento criamos certa rejeição pela escolha de vilões menos conhecidos como o Espantalho/Jonathan Crane e Ra’s Al Ghul. Porém, no decorrer do filme, percebemos que eles também não estão ali por acaso: Crane representa o medo encarnado, um adversário forte de Bruce devido ao seu passado e as suas experiências até então e Ra’s Al Ghul, que é tudo o que Bruce Wayne poderia ser mas que escolheu não ser, afinal, como ele mesmo diz no filme “Não é quem eu sou, mas o que eu faço me define”.
Portanto, um ótimo filme que serviu como uma luz no fim do túnel para a franquia do Morcego e para todos os heróis e super-heróis que ganharam um filme após Batman Begins. Todos devemos agradecer a Christopher Nolan, pois ele revolucionou os filmes-de-herói para sempre com a sua inteligência e simplicidade, partindo de um ponto em que devemos enxergar os heróis não como deuses, mas sim como pessoas normais que querem apenas o que todos queremos: vencer os nossos medos e espantar os nossos demônios para que, finalmente, consigamos viver da melhor forma possível e que se, para isso, for necessário vestir uma roupa de morcego e sair por aí fazendo “justiça-com-as-próprias-mãos”, que assim seja!
Excelente texto, concordo com tudo que disse sobre o filme batman begins, Nolan soube passar para tela toda a magia de revistas classicas como Batman Ano Um nesse filme.
ResponderExcluirÓtimo texto!! Conseguiu mostrar de uma maneira muito real todas as referências que Nolan usou, e todo o cuidado que ele teve pra respeitar essas referências.
ResponderExcluirNolan criou 2 filmes sensacionais, e se tudo correr bem (e torcemos para isso) ele encerrará de maneira perfeita. E concretizará o universo que ele criou em gande estilo!