Escrever um artigo sobre um filme que já foi considerado “O Pior Filme de Todos os Tempos” não é uma tarefa das mais fáceis, mesmo assim cá estamos para analisar e tentar entender o que fez deste filme uma das piores adaptações de HQ’s da história do cinema.
Para começar, estamos em 1995 e Batman Eternamente está a poucos dias sendo exibido nos cinemas do mundo todo e alcança marcas expressivas de arrecadação e público. Obviamente, um novo filme era mais do que esperado. Porém, mesmo sem nenhum planejamento prévio da Warner Bros. ou dos envolvidos diretamente com BE, é decidido que a produção do próximo filme deveria começar imediatamente. Neste clima de desorganização e total falta de preparo nasceu Batman & Robin (Batman & Robin, 1997).
Segundo palavras do diretor Joel Schumacher existia uma pressão enorme do estúdio para que o filme fosse feito com uma temática voltada à família, às crianças. Para termos uma noção sobre o tamanho da exigência da WB em fazer um filme para este público alvo específico, foi criado um termo que serviu como “direção” na construção do filme: Toyetic, ou seja, tudo o que você fizer pode e deve virar um brinquedo a ser comercializado futuramente.
Com aval da WB empresas da indústria de brinquedos envolveram-se diretamente no processo criativo do filme e, seguindo os desejos do estúdio, opinaram em tudo: veículos, uniformes, equipamento, cenários; E pior, além de opinar, pressionavam para que tudo fosse decidido rapidamente e com muita antecedência para que os brinquedos tivessem tempo hábil para serem lançados junto ao filme (!!!). A besteira estava feita...
Falando sobre o filme, Joel Schumacher (diretor), Chris O’Donnel (Robin), Michael Gough (Alfred) e Pat Hingle (Comissário Gordon) estavam de volta e para este novo foram contratados para os papéis principais George Clooney (Mar em Fúria, Onze Homens e Um Segredo), Arnold Schwarzenegger (Conan, O Exterminador do Futuro), Uma Thurman (Pulp Fiction, Kill Bill) e Alicia Silverstone (As Patricinhas de Beverly Hills) para os papéis de Bruce Wayne/Batman, Senhor Frio, Hera Venenosa e Batgirl, respectivamente.
A história de B&R mostra a luta dos personagens título contra o Senhor Frio, um cientista que sofreu um acidente num laboratório de criogenia enquanto pesquisava uma forma de obter a cura para uma doença que acometeu sua esposa, e a defensora da flora Hera Venenosa, uma botânica que adquiriu poderes sobre as plantas após um acidente com compostos químicos causado pelo Dr. Jason Woodrue (John Glover, o Lionel Luthor de Smallville),nas HQ’s conhecido também como Homem-Florônico; no filme apenas um cientista maluco. Ambos unem forças para derrotar a Dupla Dinâmica e dominar Gotham para congelar toda a cidade, recomeçar a partir do zero e devolver à mãe natureza aquilo que é seu de direito.
A origem dos vilões em relação às HQ’s foi mantida quase que fielmente. Destaque para o acidente do Dr. Victor Fries na câmara criogênica, lembrando muito o episódio Heart of Ice, um dos melhores episódios (senão o melhor) da primeira temporada de Batman: A Série Animada. Porém, assim como os vilões de BE, o Senhor Frio e a Hera Venenosa ficaram cartunescos demais, principalmente o Frio, que como o próprio nome diz deveria ser um cara totalmente desprovido de emoções. Mais um ponto negativo para o filme que seguia à risca a vontade do estúdio.
A maior alteração do filme comparando-o aos quadrinhos foi o surgimento da Batgirl. No filme ela é Barbara Wilson, uma estudante da universidade de Oxbridge em Londres que vem à Gotham para visitar o seu tio doente: Alfred Pennyworth. Como é do conhecimento da grande maioria a verdadeira Batgirl chama-se Barbara Gordon e é filha adotiva do Comissário de Polícia. Porém, essa alteração é cabível visto que o personagem de Pat Hingle tem pouquíssima relevância em todos os quatro filmes.
E o que dizer do Bane?
Enquanto aguardamos ansiosamente para vê-lo no vindouro O Cavaleiro das Trevas Ressurge, vamos analisar a participação deste que é, com certeza, um dos piores inimigos que o Homem Morcego já enfrentou em sua carreira.
Nas HQ’s, Bane nasceu e cresceu numa prisão localizada em uma ilha isolada do continente. Foi o único sobrevivente de testes com um composto químico conhecido como Veneno, que aumenta excessivamente a força daquele que o injeta na sua corrente sanguínea. Sua principal característica além da força é sua inteligência aguçada fruto de anos de estudos e leituras diversas na biblioteca da prisão. Agora, excluindo o Veneno, qual a outra característica do personagem foi utilizada no filme? Nenhuma!
No filme, Bane na verdade chama-se Antonio Diego (?), um prisioneiro que topa ser usado como cobaia em testes militares para criar um Super-Soldado (sim, esta expressão conhecida nos quadrinhos Marvel é utilizada mais de uma vez na mesma cena) e a justificativa para o seu nome é a frase “Bane... Banned of humanity”, banido da humanidade. Isso sem contar o fato dele grunhir o tempo todo e ser apenas o capanga da Hera Venenosa. Lamentável!
Mais lamentável que isso somente a primeira versão dublada que chegou ao Brasil onde o personagem foi chamado de Peçonha... Vergonha alheia total!
Aliás, em se tratando de vergonha alheia este filme é insuperável:
- Senhor Frio com um roupão de ursinhos e pantufas de Urso Polar regendo uma “Orquestra de Natal” formada por seus capangas;
- A Dupla Dinâmica está na bat-caverna e o Robin diz: “Eu quero um carro... As garotas amam o carro”, e o Batman responde: “É por isso que o Superman trabalha sozinho”;
- Batman “surfando” no dinossauro congelado;
- Robin com sua moto quebra a porta congelada do Museu de Gotham e o buraco fica com a forma de seu símbolo;
- O telescópio congelado consegue se movimentar e emitir raios congelantes, mas não consegue emitir os raios de sol para descongelar Gotham;
- Os intermináveis trocadilhos com a palavra “frio” ditas pelo Senhor Frio durante todo o filme;
Porém nenhuma consegue superar em bizarrice uma que entrou para a história como uma das piores de todos os tempos: a cena do Bat-Cartão de Crédito! Como se já não fosse ruim o suficiente o Batman ter um cartão escrito “Bom até: Sempre”, ele ainda vira para a câmera e diz “Não saia de casa sem ele”. Ahn?!
Não existem palavras suficientes para descrever a vergonha alheia monstruosa que sentimos ao rever esta cena...
O filme foi recheado de polêmicas, discursos moralistas e cenas sem sentido como, por exemplo, a cena da “batalha final” onde Batman, Robin e Batgirl aparecem em uniformes diferentes com detalhes cinzas. Chris O’Donnel em uma entrevista chegou a afirmar: “Tentei entender como isso (os novos uniformes) funcionava na história. Quando vi o filme eu ri. No primeiro filme era tudo mais nítido, mais focado. Achei tudo um pouco mais confuso no segundo. No primeiro parecia que fazia um filme. No segundo eu estava num comercial de brinquedos”.
Mas, com certeza, nenhuma polêmica foi maior do que os Bat-Mamilos nos uniformes!
Numa explicação “furada” Joel Schumacher disse que “a inspiração veio das estátuas gregas que tem corpos perfeitos. Então moldamos esses corpos com borracha e eles se tornaram anatomicamente eróticos. Mas eu não sabia a repercussão que isso daria. Eu assumo a culpa por usar e glorificar e beleza e a sexualidade nisso”. Sexualidade? Beleza? Qual o filme que ele assistiu que nós não vimos? Ele só poderia estar brincando quando disse isso...
Após o fiasco do filme, o baixíssimo retorno financeiro e com críticas severas, a franquia Batman foi colocada de lado por muito tempo. Existia um projeto para um terceiro filme feito por Schumacher chamado Batman: Triumphant onde o inimigo seria o Espantalho que óbvio foi engavetado, trancado e teve sua chave jogada longe, mas muito longe!
Joel Schumacher assumiu a responsabilidade pelo fiasco do filme e chegou a pedir desculpas aos fãs e investidores:
“Se há alguém que gostou de Batman Eternamente e foi assistir Batman & Robin com grande expectativa e eu o desapontei de alguma forma, realmente queria me desculpar, pois não era a minha intenção.”
Tarde demais Sr. Schumacher... O resultado desta aberração cinematográfica foi a interrupção da franquia Batman no cinema por 8 longos anos e uma queda considerável, na época, no interesse dos grandes estúdios em realizar filmes baseados em super-heróis.
Podemos dizer que este é “O Pior Filme de Todos os Tempos”? Bom, existem filmes muito ruins por aí e, com certeza, devem existir alguns bem piores do que ele.
A lição que ficou após Batman & Robin foi a seguinte: o público quer um filme onde se mostre o desenvolvimento do personagem, seus medos, seus desafios, suas vitórias. Sabemos que filmes, ainda mais deste gênero, são realizados com um cunho totalmente comercial, porém o público alvo é bastante exigente e vai sempre querer ver o que estão acostumados a ler nas HQ’s.
Leitores de HQ’s são chatos... Leitores de HQ’s são exigentes... Porém leitores de HQ’s são, acima de tudo, fãs e querem o mínimo de respeito para com estes personagens que os acompanham por tanto tempo.
Ainda bem que no fim do túnel existia uma luz... E essa luz atendia pelo nome de Christopher Nolan...
Graças a Deus que Christopher Nolan levou a sério!
ResponderExcluirPéssimo filme, mas ótima análise.
ResponderExcluirComo eu me lembro dos brinquedos. "Existiam" Batman's com várias armaduras diferentes que nem tinham aparecido no filme. Eu tinha um da época do Batman Eternamente, que acompanhava uma asa-delta no formato do simbolo e com garras de morcego....
não sei por que ficam falando isso do Batman e robin
ResponderExcluiraté que é legal
mas eu concordo com a dos mamilos e a da roupa no final do filme
ExcluirRealmente de todos os filmes, acho esse horrível!
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