Você conhece os heróis... Você conhece os vilões... Você conhece os policiais... Chegou a hora de conhecer Gotham City pelo olhar de seus verdadeiros habitantes: os GOTHAMITAS!!!
Esta com certeza será uma noite daquelas. Os cidadãos mais importantes de toda a cidade estarão reunidos para o 6º Baile Beneficente Anual em Prol das Crianças Carentes de Gotham City, promovido pelas Indústrias Wayne, e sendo eu um dos empresários mais bem sucedidos da cidade, obviamente, estarei presente.
Devo concordar que a causa é nobre. Porém, infelizmente, a grande maioria comparece ao baile buscando apenas os holofotes da imprensa muito mais para passar a impressão de que se importa com os menos favorecidos do que pelo fato de realmente se preocuparem com os habitantes desta cidade.
Enquanto meu motorista dirige, presto atenção no caminho e ao que acontece ao meu redor. Eventos beneficentes são ótimas oportunidades para refletirmos sobre como somos privilegiados por ter uma condição de vida acima da média e, ao mesmo tempo, constatar que quase nunca estendemos a mão para aqueles que necessitam de ajuda. Como por exemplo aquele menino deitado no ponto de ônibus tentando se esconder da chuva fina e do vento frio. Cá estou indo para uma festa regada a comida e bebida da melhor qualidade e, ao ver esta cena tão cotidiana que na maioria das vezes passa desapercebida, me deparo com um pensamento: Será que ele se alimentou hoje?
Ao chegar, visualizo Bruce Wayne em pessoa recepcionando os seus convidados e cidadãos ilustres de Gotham. Quero acreditar que ele conhece muito bem toda essa gente e tenha o discernimento necessário para distinguir as pessoas que querem contribuir das que querem aparecer.
“Olá Senhor Wayne, como vai?”
“Muito bem, e você? Mas, por favor, me chame de Bruce. Vamos, entre que um dos garçons o acomodará em sua mesa. Obrigado pela presença.”
O salão está inacreditavelmente bonito com a decoração toda feita nas cores branca e prata. O som suave de violinos paira no ar. Nas mesas, além dos arranjos com flores naturais as quais eu não sei o nome, temos as melhores louças e talheres que o dinheiro pode oferecer.
No caminho para a mesa vejo outros empresários, banqueiros, médicos, advogados, policiais de alta patente e toda a variedade de ricos e poderosos que você possa imaginar. Mas o que chama a minha atenção é o elevado número de políticos. Não te causa revolta saber que estes ditos “representantes do povo” só apareçam em ano de eleições? Claro que existem pessoas decentes neste meio, mas os poucos que se encaixam neste perfil são subjugados pela maioria podre e, quando não se corrompem, são deixados de lado. Convenhamos que esta não é uma situação exclusiva de Gotham City, mas nesta cidade existe uma tendência natural para que as coisas sejam um pouco piores.
Assim que todos os convidados se acomodam, o anfitrião da noite pede a palavra:
“Boa noite senhoras e senhores. É com muito prazer que eu os recebo aqui para o nosso 6º Baile Beneficente Anual em Prol das Crianças Carentes de Gotham City. Antes de nos fartarmos com o delicioso cardápio preparado exclusivamente para esta noite e o conseqüente Baile, eu gostaria de dizer algumas palavras.”
Posso ver no semblante de vários convidados uma expressão de desânimo devido à iminência de um discurso longo e chato.
“Passamos por um momento de extrema dificuldade nesta cidade. Um momento onde a maioria dos cidadãos sofre devido à falta de segurança. Um momento de escândalos políticos cada vez mais freqüentes. Um momento onde depositamos todas as nossas esperanças em pessoas fantasiadas que saltam pelos prédios de Gotham City tentando trazer um pouco da sensação de bem estar que um dia esta cidade já teve.”
Muito bem dito Sr. Way..., digo, Bruce.
“Nesta noite de celebração, gostaria que todos vocês aqui presentes refletissem sobre o modo como ajudam esta cidade. Este Baile é importante? Sim, muito! Porém, será que é suficiente contribuir para esta causa uma vez ao ano? Creio que não. Na noite em que os meus pais morreram eu não conseguia entender o que leva uma pessoa a fazer aquilo que o assassino deles fez. Hoje me pergunto várias vezes se este mesmo assassino não seria uma pessoa diferente se, no seu tempo de criança, tivesse o suporte necessário.”
“Pensem nisso e mudem de atitude enquanto é tempo. Gotham City e os seus habitantes merecem mais do que nós oferecemos atualmente.”
Aplausos. Muitos deles falsos. Menos de um minuto após o término do breve discurso de Bruce Wayne, o assunto já está esquecido.
Não pra mim. Durante todo o tempo em que ele discursou não pensava em outra coisa senão no garoto do ponto de ônibus e, automaticamente, perdi a fome. O que eu posso fazer para ajudar mais? Como nós podemos contribuir para diminuir o número de pessoas que, ainda hoje, sofrem com o descaso da sociedade?
A reflexão é válida. Mas reflexão apenas não é o bastante.
O Baile continua. A vida segue.
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Cara, de todos os quatro textos redigidos e publicados na sessão Gothamitas esse último é meu favorito! Maravilhoso, genial, uma abordagem emocionante e refelexiva nunca antes focada de forma tão realista. Lindo texto, belíssima criação, meus sinceros parabéns, e eu digo uma coisa, se essa idéia evoluísse para um livro eu seria um dos primeiros no Brasil a comprá-lo! E a DC Comics faria um excelente negócio. Fiquem com Deus, abraços de morcego!
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